segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Confessions of two girls - Capítulo 4

Capítulo 4
Kitty Smith
- Calma Star, calma.
A égua castanha estava muito exaltada. A Star é a minha égua desde os meus 15 anos, e embora só a tenha há 3 anos já me afeiçoei imenso a ela. É, de certeza absoluta, a égua mais bonita da herdade.
- Não podes estar assim, senão como é que vou dar aula? Vá, acalma-te.
Ela pareceu acalmar-se um bocadinho. Suspirei de alívio.
- A falar com uma égua? – perguntou uma voz agora conhecida. Era Mia. Com os relinchos da Star não a tinha ouvido a entrar.
- Sim, tens algum problema? São animais, e compreendem-te.
- Ei, eu não disse…
- Quando tiveres o teu cavalo percebes.
- Kitty, não te exaltes! Mas é bom saber que te ando a ensinar alguma coisa de jeito.
- Ai sim? O quê? – perguntei, não percebendo onde ela queria chegar.
- Já sabes discutir melhor.
- Parva.
- És tu.
- Não sabes o que dizes.
- Sei sim.
Lancei-lhe um olhar fulminante, mas ela ficou na mesma.
- O que é que estás aqui a fazer?
- A conhecer a herdade. Sabes que aquela de me acordares às nove da manhã não teve piada nenhuma, não sabes?
- Estás a falar de quê? – perguntei, fazendo-me desentendida. – Às nove já cá estava.
- Deixaste o cortinado aberto.
- Desculpa, não sabia que eras sensível à luz.
- Não sejas idiota, sim? Honestamente, não sei como é que o Justin te suporta. Ele até pareceu um bom rapaz.
- Não voltes a falar do meu namorado outra vez.
- Isso é uma ameaça? – perguntou ela, com um ar desafiador.
- Entende como quiseres. – respondi, retribuindo o olhar.
- Minha querida, nem sabes com quem é que te estás a meter.
- Veremos. Agora, se não te importas, tenho uma aula para dar.
- Boa sorte. – desejou ela.
- Para quê?
- Para o miúdo a quem vais dar aula. Coitado.
- É uma miúda. – corrigi.
- Tanto faz.
Virei-lhe costas e segui o meu caminho. Que rapariga mais irritante! Ouvi-a a rir-se, mas ignorei e segui em frente. O Stéphane já estava à minha espera, e a aula fez bem para desanuviar.
- Agora vamos experimentar um leve trote, está bem?
Ele assentiu e começou a trotar. Ficámos mais uns minutos a fazer aquele tipo de exercícios e passámos para coisas mais complicadas, como ele andar sozinho, sem eu a puxar a corda.
A aula passou mais rápido do que eu queria. Não me apetecia nada estar sem nada para fazer, especialmente porque o Justin tinha um exame, logo não ia poder estar comigo. Foi então que avistei o meu salvador: o Tyler.
- Tyler! – chamei, satisfeita.
- Olá. Nunca te vi tão feliz por me veres.
- Estava a ver que ia apanhar uma seca.
- Não sejas assim Kittyzinha. Agora tens a tua nova maninha.
- A minha nova maninha… Olha, perdeste a oportunidade de a conhecer por uma hora!
- Que azar…
- Tyler, podes parar com isso? – pedi, de repente.
- Com o quê? – perguntou ele, confuso.
- Pára de mexer no raio da ferida. Sabes como isso é irritante?
- O quê?
- Sim, estás sempre a mexer nessa ferida que fizeste ontem. A sério, começa a irritar.
- Não sejas tão chata, Kitty.
- Chata? – perguntei, fingindo-me indignada.
- Sim, chata! – respondeu ele, começando a fazer-me cócegas.
- Parvo! – critiquei-o, tentando libertar-me. – A sério Tyler, tenho de me ir embora.
- Pronto, está bem. Eu também tenho de voltar ao trabalho, por isso estás com sorte. Até logo.
- Até logo.
Fui até aos balneários. Tomei um duche, vesti uma roupa lavada e fui para casa. Demorei apenas alguns minutos, mas foram os suficientes para ter lamentado não levar o meu carro, pois estava mesmo muito quente. Naquele mesmo momento decidi que a seguir ao almoço iria à praia. É que realmente é insuportável estar debaixo deste calor escaldante sem fazer nada.
- Kitty! – chamou Samuel, que estava a lavar o carro com a mangueira.
- Olá. Tudo bem? – cumprimentei, simpaticamente.
- Sim, claro que sim. – respondeu ele. – A aula, correu bem?
- Correu. Embora esteja um calor de morte…
- É verdade.
Ele sorriu. Tal como a Mia, ele tem um sorriso muito bonito. E está bastante bem conservado para uma pessoa com 47 anos, porque deve ser daqueles quarentões que tem todas as mulheres atrás dele.
- Acho que vou entrar.
- Claro, não te prendo mais aqui.
Sorri e dirigi-me para casa. Tenho que confessar que a minha mãe fez uma boa escolha. Eu gosto dele, e já o imagino a ser como um pai, os natais em família… A minha mãe merece ser feliz, e acho que o Samuel é perfeito. Só a filhinha dele…
- Olá. – cumprimentou-me Natalie, quando entrei em casa. Ela é a nossa empregada.
- Olá. – respondi, amigavelmente. Virei à esquerda e entrei na sala. Estava lá a Mia.
- Chegou uma carta para ti. – anunciou ela, rudemente. Quase como se estivesse a falar com uma estátua. – Está em cima da mesa.
- Espero que não a tenhas lido.
- Como se a tua correspondência me interessasse.
Deitei-lhe a língua de fora e abri a carta. Assim que vi a letra conhecida, corri para o meu quarto.
- Vê lá se não partes uma jarra! – gozou Mia. Ignorei-a e continuei o meu caminho.
Assim que entrei no meu quarto atirei-me para cima da cama. Abri a carta.
“Querida Kitty,”
- Deves estar a achar. – disse para o ar, revoltada com o que acabava de receber. Estava com tanta raiva que atirei a almofada contra a porta.
- Está tudo bem? – perguntou a minha mãe, entrando. Deixei a carta escorregar propositadamente, para ela não a ver.
- Claro. Estava só a fazer pontaria. – inventei.
Ela não me pareceu muito convencida, mas não voltou a tocar no assunto.
- Queres alguma coisa, mãe?
- Sim, claro. O almoço está pronto.
- Ok, obrigado. Vou já.
- Nem penses que te atrasas! Vá, à minha frente.
- Mãe…
- Kitty…
- Pronto, está bem! – cedi, levantando os braços em sinal de rendição. Ela sorriu e eu beijei-lhe a cara. As duas descemos até à sala de jantar, onde já se encontravam Samuel e Mia. Para infelicidade minha (na verdade, das duas) sentei-me ao lado dela.
- Espero que tenhas lavado as mãos. – provoquei-a.
- Eu sim, e tu?
O que ela disse não tinha mal nenhum, mas a forma como o disse assustava.
- Eu também, obviamente.
- Não me parece assim tão óbvio. – disse ela, apontando para uma mancha de tinta que eu tinha na mão. Bolas!
- Eu lavei, ok? Isto é que não sai!
- Pois, claro… Desculpas!
- Meninas, podem parar com isso? – pediu a minha mãe, extasiada. As duas parámos imediatamente.
Portámo-nos mesmo muito bem durante o resto do almoço, e assim que acabei levantei-me da mesa. Fui ao meu quarto pôr o biquíni e, para acelerar a digestão, fui a pé até à praia. Através da herdade consegue entrar-se na praia, numa zona que nem é muito movimentada e é bastante agradável. Essa zona fica a mais ou menos 1 km de minha casa, mas quase que nem se nota.
Passei a cerca de madeira e senti os pés a tocarem na areia. Que sensação tão fixe! É o que eu mais gosto no verão.
- Por aqui?  - perguntou alguém, mesmo atrás de mim. – Uma menina como tu não devia andar por aqui.
Virei-me e vi um rapaz, todo vestido de preto, cheio de correntes e piercings. Cheirava imenso a tabaco e álcool. Aquilo “não me cheirou nada bem”, e comecei a tremer instintivamente. Ele começou a andar em círculos à minha volta.
- Uma menininha rica sozinha numa zona tão deserta como esta? Não é possível!
Ele aproximou-se mais de mim, e recuei um passo.
- Oh não, tu és a filha da dona da herdade! Como é que a mamãzinha te deixa andar sozinha? Não sabe que é perigoso, não? – perguntou ele, “acariciando-me” a face. Comecei a congelar de medo.
 - E se fosses dar uma volta, idiota? – perguntou Mia, que vi que tinha aparecido de repente. Estava com um ar super sereno, o que contrastava com a minha ansiedade.
- Olha, temos uma corajosa. – disse o rapaz perversamente, observando Mia.
- É melhor desapareceres. Se não…
- Se não o quê? – provocou ele.
Achei que ela se ia calar, mas em vez disso espetou-lhe um murro na cara. Não percebo muito de murros, mas aquele deve ter sido mesmo bem dado. Até porque ele começou a sangrar do nariz.
- Tens a certeza que queres ouvir o meu se não? – perguntou Mia, com um ar superior.
- Tens garra miúda. Por agora deixo-vos em paz, mas vais voltar a ouvir falar de mim, garanto-te. – disse o rapaz com um ar decidido, enquanto limpava o sangue com a mão. – Nunca ninguém vence o Luc. Ninguém.
Nenhuma de nós disse uma palavra até ele se afastar. Ela olhou para mim, e eu olhei para ela.
- Eu nem sei como te agradecer. – confessei, bastante agradecida pela ajuda dela.
- Então não agradeças. Deve ser a primeira vez que agradeces ter alguém que já enfrentou gente deste tipo. – disse ela, sorrindo. Era um sorriso genuíno, bonito de se ver. Instantaneamente, vi o outro “eu” da Mia.
- Pois, acho que sim. Obrigada, a sério.
- Não precisas de agradecer. Bem, acho que vou dar um mergulho. – disse ela.
- Mas nem sequer tens fato de banho!
- Kitty, tens de aprender a soltar-te.
- Não vais fazer nudismo, pois não? – perguntei, incomodada. Ela começou a rir-se embora.
- Descansa. É exactamente o oposto.
Tirou os chinelos e começou a correr. E mergulhou na água, toda vestida. Ok, ela é maluca. Mas ou menos diverte-se.
êêê
Assim que acabei de vestir o pijama enfiei-me na cama. Peguei no livro que ando a ler, e estava pronta para começar quando me bateram à porta.
- Posso? – perguntou Mia, espreitando.
- Esqueceste-te de alguma coisa? Já foste para o teu quarto…
- Não, não me esqueci de nada. Quero falar contigo. Posso?
- Sim, entra. – disse, ajeitando melhor a minha posição.
Com o fato de treino que tinha vestido e o rabo-de-cavalo ela parecia uma pessoa completamente diferente. Sentou-se em cima da minha cama.
- Sobre o que é que queres falar? – perguntei, curiosa.
- Eu tenho uma dúvida. O que é que aconteceu ao teu pai? – perguntou ela, de repente.
- Ele morreu. – respondi, nervosa.
- De certeza?
- Absoluta.
- Então o que é isto? – perguntou ela, abanando uma carta na mão. Congelei.
- Andaste a mexer nas minhas coisas?
- Não. Quando estava a arrumar as minhas coisas vi isto dentro da minha mala. Deve ter caído. – disse ela. As duas ficámos em silêncio um bocado, mas ela voltou a falar. – Ouve Kitty, podes contar-me, a sério que podes. Acredita que eu te vou compreender. Podemos não ter a melhor relação do mundo, mas podes confiar em mim.
Estive quase a recusar, mas não aguentei. A minha fraqueza tomou conta de mim e comecei a chorar. Ela agarrou-me, sem por um momento hesitar.
- Vá, não chores.
Nos minutos seguintes tentei controlar-me. Quando já estava quase controlada, comecei a contar-lhe.
- Quando eu tinha 10 anos os meus pais começaram a discutir imenso. Eu tentava ignorar, indo para outro sítio da casa. Depois começaram a discutir todos os dias. O balão acabou por rebentar, e quando eu tinha 11 anos ele saiu de casa. Nos primeiros meses tinha esperança que ele voltasse, mas isso não aconteceu. Aprendi a viver só com a minha mãe, e ela fez tudo por mim. Foi a melhor mãe do mundo, e foi muito difícil educar-me. Passei a concentrar a minha raiva em vontade de a fazer ter a filha que ela merecia. O meu progenitor – disse esta palavra com amargura, com raiva. – não deu sinal de vida durante 6 anos. 6 anos! Achas normal? Eu não. Mas o senhor teve a gentileza de me ligar o ano passado nos meus anos, para me dar a notícia de que se tinha casado outra vez! Desde aí manda-me cartas quando calha. E sempre que calha, elas vão directamente para o caixote do lixo.
- Porquê cartas?
- Porque eu rejeito os mails e os telefonemas.
- Ouve, eu… Lamento imenso. A sério.
- Já que estamos numa de contar coisas tristes… - disse eu, limpando as lágrimas com a palma da mão. – Não queres contar-me a história da tua mãe?
Achei que ela ia recusar. Em vez disso, sentou-se ao meu lado e pôs os braços à volta dos joelhos.
- A minha  mãe morreu quando eu tinha oito anos. Foi num acidente de carro. Juro que houve alturas em que cheguei a pensar que foi de propósito.
Não queria interrompê-la, mas não me contive.
- De propósito?
- Ela tinha uma doença em fase terminal. – contou ela, com as lágrimas nos olhos. – Não a censurava se quisesse acabar com a dor dela. Todos os dias tinha montes de dores, e mal se podia mexer. Quase nunca saía de casa, e as coisas foram mesmo complicadas. Bem, o que interessa é que ela escreveu-me 12 cartas.
- A sério?
- Uma por cada aniversário, até aos meus 20 anos. Todas as cartas dizem algo diferente. No início, mal conseguia esperar pelos meus anos para ver o que ela me tinha escrito, mas agora…
- Agora não consegues? – adivinhei.
- É isso mesmo. Ainda não consegui abrir a dos meus 18 anos. – confessou ela, limpando o olho com o dedo.
- Estás a chorar? – perguntei.
- É claro que não. – mentiu ela.
- Mia, estamos no mesmo poço. Não tens de esconder.
Ela olhou para mim. Os olhos, habitualmente castanho-azulados estavam agora muito azuis.
- Uau, os teus olhos estão lindos.
- Ficam assim quando choro.
- Então devias chorar mais vezes.
O que eu disse aliviou o ambiente, e começámos as duas a rir-nos.
- Ok, isto vai parecer estranho, mas… Eu não estou assim tão ansiosa por estrear o meu quarto novo. Achas que hoje posso ficar aqui?
- Claro. Tréguas por uma noite? – adivinhei.
- Tréguas por uma noite. – concordou ela.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ano Novo

Último dia do ano!!!! ahah, espectáculo, não é?? Parece que este vai ser o meu último post do ano...
UM FELIZ ANO NOVO A TODOS!!!