sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ano Novo

Último dia do ano!!!! ahah, espectáculo, não é?? Parece que este vai ser o meu último post do ano...
UM FELIZ ANO NOVO A TODOS!!!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Feliz Natal

Quero desejar um feliz Natal a todos os meus seguidores. Podem não ser muitos, mas são os melhores!!!!
Espero que tenham aquilo que mais querem e, claro... leiam muito!!!
Beijinhos
Beatriz

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Confessions of two girls - Capítulo 3 (especial p a Dani!!!)

Capítulo 3
Mia Stevens
Não falei a viagem toda. Ouvi música, li um livro, dormi… Mas não falei com o meu pai. Aliás, nas últimas duas semanas só falava com ele o essencial dos essenciais. Ainda nem acreditava no que ele me tinha feito. Ainda não acreditava que já não vivia em Los Angeles. Ainda não acreditava que ia viver para San Diego. Ele não tinha o direito e ponto final.
Estava com a cabeça encostada ao vidro, a olhar para o mar. Ao menos ia estar perto do mar, menos mal. No verão o calor é insuportável, e é bom poder ter uma praia para ir refrescar as ideias. Uma coisa que já tinha prometido a mim mesma, é que ia ficar a conhecer aquele sítio muito bem, para poder desaparecer o dia inteiro.
- Estamos quase a chegar, minha querida. – avisou o meu pai. Ignorei-o pela quinquagésima vez (sem exageros) naquele dia. – Mia, vá lá.
Ajeitei a minha posição na cadeira, continuando a ignorá-lo.
- É assim que vai ser? Muito bem. Se te interessar, a tua nova casa fica ali. – disse ele, apontando para um enorme portão. Este estava aberto, e à porta estava o que eu supus ser o porteiro. Avistavam-se enormes campos, a maior parte deles com cercas. Uns tinham cavalos a pastar, outros estavam simplesmente vazios, outros tinham flores lindas. Nos caminhos havia um grande alarido: carrinhas a passar, carros estacionados no parque de estacionamento, um tractor cheio de pessoas que tiravam fotografias, uma ou outra pessoa a cavalo… Tudo ocupado. Era sem sombra de dúvidas um daqueles ambientes “fixes”.
- Não me digas que vamos viver no meio do campo. – disse, ironicamente. Não podia desmanchar a minha postura, mas a verdade é que não me importava nada de dormir ao relento, desde que fosse ali.
- Claro que não.
O meu pai guiou por uma data de estradas, de onde se avistavam campos com porcos, vacas, galinhas, e esse tipo de coisas. Vi os estábulos, e uma espécie de edifício ao lado que calculei ser o sítio dos escritórios da herdade. Virámos para uma rua onde apenas passava uma carrinha, o que logo à partida já era estranho. Quando olhei para a frente, nem queria acreditar no que via. Àquilo não se podia chamar casa. Nem casarão. Aquilo era uma mansão!
- O que é isto? – perguntei, espantada.
- A tua nova casa. – esclareceu o meu pai, com um sorriso perante o meu espanto.
- Podias ter-me prevenido.
- Achei que era óbvio. Além disso não falavas comigo, lembras-te?
- Mas ouvia-te na mesma. – respondi, não querendo “ficar mal”.
A casa também estava rodeada por uma espécie de grades e por um portão (que estava aberto). Carros, que eu calculei serem dos funcionários, estavam estacionados cá fora. Lá dentro, ao lado do sítio onde o meu pai estacionou o carro, estavam outros dois carros, que eu calculei pertencerem a Leona e a Kitty. O Mercedes de Leona, prateado, fazia contraste com o carro preto do meu pai. Ao lado do Mercedes, estava um Freelander 2 vermelho, mesmo giro. Calculei que fosse da Kitty, logo a começar pela cor.
- Então, gostas?
- Tenho de confessar, isto é espectacular. No entanto, não vale a pena criares expectativas. Duvido que aqui me chegue algum dia a sentir em casa. Aposto que nem lá perto.
- Vá lá Mia. Tens a praia mesmo aqui ao lado, e isto é óptimo. Tu adoras passear, nada melhor do que isto.
- Eu gostava de passear quando tinha 10 anos.
- Porquê, já não gostas?
Não respondi, não querendo dar-lhe razão. Ele ia repetir a pergunta, ou algo do género, quando a Leona me salvou.
- Olá! Então, que tal a viagem? – perguntou, simpaticamente.
- É mesmo preciso responder? – perguntei. Acho que a magoei, mas ela deixou passar. Nem sequer olhou para as minhas roupas com repulsa, o que raramente acontece.
- Foi boa, querida. – respondeu o meu pai, beijando-a.
- Se não se importarem, eu vou dar uma volta.
Como se o facto de eles se importarem mudasse alguma coisa.
- Não te queres instalar primeiro? – perguntou o pai.
- Deixa-a ir conhecer o sítio. O que não falta à Mia é tempo para se instalar.
- Infelizmente… - comentei, baixando o tom de voz. Dei meia volta e comecei a afastar-me. Saí dos portões, sem fazer a mínima ideia do sítio para onde estava a ir. Andei mais ou menos 1 km (se calhar estou a exagerar). À minha volta só via campos e mais campos. Uns tinham flores, e estavam mesmo bonitos, outros estavam apenas vazios. O sol já se estava quase a pôr, e andar por ali acabava por ser relaxante. O meu pai tinha razão: eu adorava fazer aquilo. Andei mais um bocado, até que me pareceu ouvir água a correr. Virei à direita, e definitivamente não estava à espera de encontrar o que encontrei: à minha frente estava um lago enorme, daqueles em que se podem passar boas tardes de Verão. Os últimos raios de Sol faziam reflexo na água, e a vista estava mesmo bonita. Dei uma olhadela pelo sítio e vi uma coisa em que não reparara antes: um carro estava estacionado ao pé de uma casa minúscula, que devia servir para guardar alguma coisa. Dentro de essa casa saiu um rapaz, cabelo loiro e olhos castanhos, um bocado mais alto que eu. Pareceu espantado ao ver-me ali.
- Olá. – cumprimentou. – Posso ajudar-te? Estás perdida?
- Não, na verdade estava a conhecer a minha nova residência.
Ele aproximou-se de mim, e pôs-se a observar-me.
- Então és a Mia?
- Yup. – confirmei. – E tu és…?
- Eu sou o Justin. Sou namorado da Kitty.
- Namorado da Kitty? Coitado…
- Porquê?
- Eu não aguentava ter de a aturar.
- Mas eu gosto dela.
- Então tens mau gosto.
- Sabes mesmo como fazer as pessoas não gostarem de ti, não sabes?
- É, tenho um dom.
- Bom, parabéns.
Criou-se um silêncio constrangedor. Dei meia volta e segui por onde tinha vindo. Quando cheguei à ramificação, fiquei confusa sobre o caminho. Boa, estava perdida!
- Mia, espera. Queres boleia? – ofereceu-se Justin.
- Não sei se quero boleia de…
- Ei, vá lá. Já é quase noite, e pelo que eu percebo não sabes o caminho de volta.
- Pois não, não sei. Mas não preciso que me ajudes, sim?
Estive tentada a dizer “obrigado”, mas a minha “rebeldia” não deixou. Continuei em frente e optei por um caminho ao calhas. Felizmente depois de uns metros a andar reconheci o lugar. Continuei. Passaram-se mais uns minutos, até que ouvi um motor a trabalhar atrás de mim. Era o Justin.
- Podes deixar-me em paz? – pedi.
- Tens a certeza que não queres ajuda? É que a casa é para o outro lado.
Bolas!
- Ok. – cedi, vendo que estava mesmo perdida. Dei a volta ao carro e entrei para o lugar do pendura. – Mas nem penses que vou falar contigo.
- Não esperava outra coisa.
Ele pôs música. Não era o meu estilo (de agora), mas em tempos tinha adorado aquela banda. Senti a minha própria personalidade a envolver-me. Eu não sou rebelde nem nunca fui, sempre soube isso. Não sei porquê, mas acho que foi uma forma que eu arranjei de chamar à atenção, uma forma de revolta. No entanto, não penso desistir desta fase muito facilmente. Em Los Angeles, sempre foi difícil manter as aparências, porque ao contrário de toda a gente com quem eu me dava, nunca me quis meter em drogas, nem em bebidas, nem em tabaco. Cada vez que me olhava ao espelho, tinha vontade de tirar a porcaria das roupas que uso e deitá-las para o caixote do lixo, ir ao meu armário e abrir as caixas onde tenho a minha roupa antiga. Porque, apesar de tudo, eu sei quem eu sou, mas também sei que não posso voltar a ser essa pessoa. Não depois do que me fizeram. Não depois de a minha mãe ter morrido. Não depois de o Trace me ter traído. Só de pensar nisto ainda sentia um buraco na barriga.
- Chegámos. – anunciou Justin, estacionando o carro.
- Vais sair aqui?
- Hoje convidaram-me para jantar cá.
- Que azar.
- Achas?
- Yup.
- É pena.
Saí do carro, e quase que bati com a porta, mas consegui conter-me a tempo.
- Posso fazer-te uma pergunta? – pedi.
- Claro. O que é?
- Porque é que gostas tanto delas?
- Dou-te um mês para descobrires. Acredita, vais gostar.
Soltei um sorriso para mim mesma e avancei, rumo ao inferno.
êêê
Devo confessar que o interior da casa me surpreendeu. Tanto que, mesmo enquanto todos se despediam de Justin, eu continuava espantada a olhar. Era exactamente o oposto do que eu imaginara. À partida, mansão sugere um ambiente frio, isolado. Mas aquilo era… Espectacular. Era um ambiente super acolhedor e animado, que fazia qualquer pessoa (até mesmo eu) sentir-se em casa.
- Mia, esta noite vais dormir no quarto da Kitty. – anunciou Leona, de repente.
- O quê? – perguntei, esquecendo o que estava a fazer.
- Sim, o quê? – repetiu Kitty, também surpreendida com a notícia.
- O teu quarto está em remodelação. – esclareceu Leona.
- Não acredito que numa casa tão grande não tenham um quarto que não esteja em remodelações!
- Por acaso não. Fizemos obras recentemente, e os quartos só devem acabar para a semana.
- Escusava de se ter incomodado. Sabe, eu gostava de personalizar o meu quarto.
- Ah, mas vais, descansa. Agora se não se importam, eu estou estafada. Kitty, mostra o quarto à Mia.
Leona e o pai afastaram-se.
- Não acredito… - desabafei.
- Não estás mais contente que eu, acredita.
Kitty subiu as escadas, e contrariada segui-a. Passámos por um enorme corredor e a seguir entrámos numa espécie de hall, como aqueles dos hotéis. Havia duas portas, uma de cada lado.
- Este vai ser o teu quarto. – disse Kitty, apontando para a porta do lado esquerdo. – Este é o meu.
Perfeito, uma em frente à outra! O que é que podia ser melhor?
Ela abriu a porta do quarto dela, e mais uma vez segui-a. Como a decoração da casa, a do quarto dela também me impressionou. Estava à espera de uma coisa completamente diferente: mais pirosa, feminina, menos humilde… Tinha uma parede cor-de-rosa, mas ficava estranhamente bem.
- A minha cama tem gaveta, e é onde vais ficar.
- Uau.
- Já te disse que isto me agrada tanto como a ti.
- E eu ouvi á primeira. Não sou surda.
- A sério? Achei que esse piercing te tirava capacidade auditiva.
Ok, a miúda conseguiu irritar-me. O que é que ela tem contra a mini bola de metal que está presa no cimo da minha orelha direita?
- Porquê, esses saltos tiram-te a capacidade de andar?
Ela não respondeu, obviamente provocada.
- Então porque é que eu devia deixar de ouvir por causa do piercing? Tu tens é inveja.
- Pois, claro. Como é que adivinhaste? – perguntou Kitty, ironicamente. – Se eu quisesse uma coisa horrorosa dessas, já a tinha há muito tempo, podes crer.
- Estás a ver? Esse é o vosso problema! Têm tudo o que querem, quando querem. Não têm nem um pingo de humildade.
- Tu não sabes do que estás a falar, por isso é melhor estares calada.
- Porquê, o que eu estou a dizer é mentira? Até parece.
Vi a minha mala e fui lá tirar o meu pijama e a escova de dentes. Entrei na casa de banho e só saí para me ir deitar. Definitivamente, aquela miúda ia estar sempre na minha lista negra. 
êêê
Acordei com o sol a bater-me na cara. A Kitty já não estava na cama, por isso devia ter feito aquilo de propósito para ver se me acordava. Olhei para o despertador cor-de-rosa dela. Nove da manhã! A miúda é louca.
Vendo que não conseguia voltar a adormecer, levantei-me e fui tomar um duche rápido. Depois de vestir um fato de treino, peguei no meu ipod e desci as escadas. Ia a sair pela porta quando ouvi a voz do meu pai.
- Bom-dia querida. – desejou ele.
- Olá.
- Não vais tomar o pequeno-almoço?
- Não tenho fome.
- De certeza?
- Absoluta.
Ia a sair pela porta quando me lembrei de uma coisa.
- O que é que aconteceu à Kitty?
- A interessares-te pela tua irmã?
- Ela não é minha irmã! – relembrei-o. – Só quero saber porque raio é que quando acordei com o sol na janela ela não estava lá.
- Ela trabalha na herdade. Dá aulas de como montar. Hoje teve uma cedo.
- Obrigado pelo esclarecimento. – agradeci rudemente, saindo mesmo pela porta.
Pus os phones e comecei a correr. O ambiente do campo fez-me recordar de algumas coisas, e esta foi uma delas. Já não fazia aquilo há imenso tempo, mas soube mesmo bem.
Ainda corri uns minutos, mas depois comecei a andar. Não por estar cansada, porque não estava. Mas a paisagem era demasiado bonita para passar sem admirar. Quando tinha mais ou menos 14 anos, a fotografia tinha sido uma das minhas grandes paixões, e dei por mim a sentir os “instintos fotográficos” outra vez. Estava tão concentrada na paisagem que apanhei um susto enorme quando ouvi um relinchar mesmo ao meu ouvido.
- Ah! – gritei, pulando. Atrás de mim, do outro lado da cerca, estava um cavalo preto lindo, com a pele super brilhante. – Uau.
Virei-me totalmente de frente para o cavalo. Observei-o, para ver se ele estava com medo de mim. Cheguei à conclusão que não estava, e atrevi-me a afagar-lhe o focinho.
- És tão fofo. – constatei. Ele aproximou mais o focinho. Arranquei um monte de erva do chão e dei-lhe. Enquanto fazia isto, ouvi o motor de um carro a aproximar-se. Virei-me e uns segundos depois um jipe branco, sem “tecto” e com um enorme logótipo da herdade gravado no capô, apareceu. Lá dentro estava a Leona, obviamente. Estacionou mesmo ao meu lado.
- Olá. – cumprimentou-me.
- Olá. – retribuí.
- Estás perdida?
- É claro que não. – disse convictamente. Olhei à volta e caí em mim. – Ok, estou.
- Pois, bem me pareceu. Vá, anda. Eu dou-te boleia.
- Duas boleias em dois dias? Não obrigada. – recusei.
- É pena, porque eu tenho uma coisa para te mostrar.
- Ai sim? O quê? – perguntei, curiosa.
- Se não vieres não vais saber.
- Pronto, está bem.
Entrei no carro. O banco era bastante mais confortável do que parecia (tenho de aprender a deixar de julgar as coisas aqui) e até sabia bem estar ali a apanhar com o sol na cara. Dali, a vista era muito mais panorâmica e vi imensos cavalos a pastar.
- Uau. – comentei.
- É fixe, não é? – perguntou Leona, tentando imitar um jovem.
- Má tentativa. – constatei.
- Foi, não foi? – perguntou ela, sorrindo. Pela primeira vez desde que tinha ali chegado ri-me com vontade, e soube mesmo muito bem.
Demorámos apenas uns minutos até se avistarem os portões da casa.
- Já sei que já tiraste a carta. – informou Leona.
- É verdade. – confirmei – Há um ano.
- Mas não tens carro…
- Quando precisava andava com o do meu pai. Ele não gostava das minhas companhias e achou que eu não merecia, e acho que aqui ele não vê um problema desse género. Também nunca precisei… Mas porquê esta conversa toda?
- Digamos que cá vais precisar de certeza. Isto é enorme, custa a andar a pé.
- E o que é que isso adianta? Não tenho carro na mesma.
- Agora tens.
Ela estacionou o carro ao lado de um Toyota Hilux preto lindo. Sempre gostei daquele género de carros. Percebi rapidamente.
- Está a gozar, certo?
- Não. Esse é o teu carro.
- O quê?
Nem queria acreditar. Ela tinha-me oferecido um carro! Saltei do jipe e fui observá-lo mais de perto. O carro era mesmo um máximo.
- Está a tentar comprar-me? – perguntei. Ela ia desculpar-se, mas cortei-lhe a palavra. – É porque está a resultar. – disse, na brincadeira. Ela riu-se.
- Temos um acordo com algumas marcas, eles fornecem-nos carros. Ofereceram-nos um desconto especial. Espero que gostes do carro, o teu pai disse que ias adorar.
- E adorei, pode crer. Mas não precisava de fazer isto. Nem sequer tenho como lhe pagar.
- Eu posso dar-te cá um emprego, mas o dinheiro é para ti. Mia, quer queiras quer não, agora somos família.
Nem sequer me dei ao trabalho de discordar. Eu estava a começar a gostar dela. Abracei-a.
- Obrigada, mesmo. – agradeci.
- Não precisas de agradecer.
- E quanto a esse trabalho? Como é que é?
- Nós precisamos de um tratador. Se perceberes alguma coisa de cavalos…
- Quando era pequena andei na equitação. Percebo deles e gosto deles. – confessei.
- Ainda bem. E fica descansada, que podes aproveitar as férias. É só um part-time.
- Boa.
- Claro que há dias que deves ficar mais tempo que outros…
- Não há problema. Eu tenho 18 anos, acho que é altura de ser responsável. E de me deixar de estupidezes.
- O que é que queres dizer com isso?
- É uma mudança a longo prazo. Com o tempo descobrirá.
- Fico à espera. Sabes montar?
- Sim.
- Óptimo, porque qualquer dia ainda és promovida e ficas a dar aulas.
- A sério? – perguntei, entusiasmada.
- A sério. – confirmou Leona, obviamente contente pelo meu entusiasmo. – No teu GPS tens o mapa da herdade. Assim já não te perdes. – disse ela, piscando-me o olho. – Agora vai experimentar o teu carro, não te roubo mais tempo.
- Obrigada. E quanto ao emprego?
- Não te preocupes, discutimos isso logo à noite.
- Nem sabe o quanto lhe agradeço.
- Nem sabes o quanto o teu nível de rebeldia desceu.
- Acho que os ares do campo me estão a mudar.
- E a Kitty?
- Não sei. E não pode ser tudo ao mesmo tempo, não é? Eu sei que ela é sua filha, mas não a consigo… suportar. Nem ela a mim.
- Não vale a pena falar com vocês. Vá, vai lá. – encorajou Leona.
Abri a porta do condutor e sentei-me. O carro por dentro era tão fixe! Rodei a chave e ouvi o motor. Meti a mudança e carreguei no acelerador. O meu carro era espectacular.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Confessions of two girls - Capítulo 2 (Mais um capitulo!!!)

Capítulo 2
Kitty Smith
Ainda me conseguia lembrar do primeiro jantar que tinha tido com Samuel, há um ano atrás. Ele tinha sido muito simpático, eu tinha ficado a adorá-lo. A minha mãe merece alguém à altura dela, e ele estava lá, sem dúvida. Sempre falou bem da filha dele, por isso não estava mesmo à espera do que encontrei. Ela era mesmo bonita, como ele tinha descrito: uns centímetros mais alta que eu, o cabelo castanho ondulado (parecido ao meu) que ia até um bocadinho depois dos ombros, olhos castanho-azulados. Qualquer rapaz devia gostar dela no seu estado normal, porque aquela maquilhagem preta definitivamente não a favorecia. Cheirava-se a km de distância que ela era “rebelde”, e que não estava mesmo nada satisfeita com a situação. Eu que não costumo odiar ninguém, consegui odiá-la logo. Impressionante, sem dúvida. Mas isso nem é o pior: o pior é o facto de ela futuramente ir ser a minha nova companheira de casa.
- Kitty, querida, posso? – perguntou a minha mãe, abrindo a porta do meu quarto.
- Claro. – respondi, deixando por momentos o meu computador.
- Sobre o jantar de ontem… Fica sabendo que a Mia não é assim no seu estado natural. – disse ela, enquanto se sentava na minha cama.
- Ai não?
- Não. Quando a conheci, o ano passado, ela foi mais simpática.
- Sabes, ela não grita simpatia quando a vemos.
- Eu sei que ela não foi agradável, mas tens de perceber que ela não teve tempo de assimilar a notícia.
- Eu percebo mãe, podes ficar descansada. – tranquilizei-a.
Ela olhou para mim com a dúvida no rosto, e eu sorri, numa tentativa de tornar a minha frase mais verdadeira. Pareceu resultar.
- Ainda bem, querida. É bom saber que vais fazer um esforço.
Pois claro. No que depender de mim, aquela miúda nunca se vai sentir em casa.
- Fica descansada. – repeti.
- O Justin está lá em baixo. Acho que te veio buscar para o jogo.
- Sim, diz-lhe sff que eu vou já.
- Está bem.
A minha mãe deixou o meu quarto. Sempre soube que, apesar de termos dinheiro, nunca lhe foi fácil ser mãe solteira. Sempre fez tudo por mim, e eu estou mesmo agradecida. Adoro a nossa herdade, e gosto muito da minha vida. Não a imagino de outra forma: tenho a mãe perfeita, o melhor amigo perfeito, o namorado perfeito…
O Justin! Tinha-me esquecido completamente dele e do jogo. Fui buscar um casaco e desci as escadas. O meu namorado estava lá à minha espera, com o sorriso de sempre na cara. Sorri-lhe também.
- Desculpa a demora. – desculpei-me.
- Não há crise. – respondeu ele, beijando-me.
- Ainda bem. Mas é melhor não demorarmos mais. Sabes, é melhor não nos atrasarmos para o jogo do Tyler, não é?
- Sim, é melhor. – concordou Justin. – Embora eu tenha sempre pena de não os poder ajudar.
- A tua oportunidade passou há dois anos…
Ele riu-se. O Justin tem 20 anos, por isso já anda na faculdade da Califórnia (em San Diego), a estudar medicina. Andou na mesma escola que eu, e foi lá que nos conhecemos.
- Eu sei, eu sei. Hoje é o último jogo, até tu vais querer jogar. – disse ele, confiante.
- Não me parece… Sabes bem que baseball não é o meu género. – constatei.
- Pois não, definitivamente. – concordou ele.
Abriu-me a porta do carro dele, e eu entrei. Sentou-se no lugar do condutor e começou a conduzir. Fomos a ouvir música, e de cada vez que ele abria a boca eu tapava os ouvidos.
- Meu amor, por favor não rebentes os meus tímpanos. – pedi, tentando não o “magoar”.
- Desculpa lá se nem toda a gente canta como tu.
- O que é que queres dizer?
- Kitty, tu tens uma excelente voz, sabes bem.
- Ok, obrigado pelo elogio. E sim, tens razão, nem toda a gente canta como eu. Por isso, por favor, não cantes, porque és um dos infelizes.
- Infelizes… - repetiu ele, como que a desvalorizar a palavra.
Assim que chegámos dirigimo-nos para o estádio de baseball. Apesar de faltar mais ou menos meia hora para o jogo começar, este já estava cheio. Conseguimos arranjar dois lugares (bem localizados) e sentámo-nos.
- Impressionante o que esta gente toda vê no baseball. Pessoalmente, não acho nada de especial. – comentei.
- Kitty, qualquer bom americano gosta de baseball.
- Dizes bem, americano, não americana.
- Até as americanas. – disse o Justin, enquanto se ria.
- Hoje estás cheio de piada! – disse, ironicamente.
Os minutos foram passando, e quando dei por mim o jogo já tinha começado. Tyler é um excelente catcher, e essencial à equipa, por isso é sempre o primeiro a jogar, mas é também o último.
- Yes! – gritou Justin, mesmo ao meu ouvido. Pulei com o susto.
- O que é? – perguntei, sobressaltada.
- O Tyler fez um home run! – disse ele, entusiasmado.
- Ok… - disse, ignorando o facto de não perceber nada daquilo.
- Não sabes o que é um home run, pois não? – perguntou ele.
- Nem por isso…
- Kitty, namoramos há 5 meses. Já vimos milhões de jogos juntos. Nunca aprendeste nada?
- Não.
Ele riu-se, mas continuou a ver o jogo. Eu, como o esperado, não percebi nada de nada. No fim, quando fomos ter com o Tyler, os dois rapazes começaram a falar sobre bases, e coisas do género. Assim, optei simplesmente por ignorá-los. É bem mais fácil.
- Agora o chato é termos de ir estudar para os exames. – disse Tyler, lamentando-se.
- Meu, agora é a festa! Vocês ganharam o campeonato, isso é fantástico. – constatou Justin. – Não é Kitty?
- Sim, sim. – respondi automaticamente, ao ouvir o meu nome.
- Esquece, mais vale mantê-la fora de conversas destas. – informou Tyler. – Conheço-a desde que ela era mini, e nunca percebeu nada relacionado com desporto. Claro, a dança é uma excepção, e das grandes.
- Parem de falar de mim. – pedi.
Os dois riram-se e continuaram com aquelas conversas… Estranhas.
As pessoas da escola estavam todas na festa de vitória da equipa de baseball. Este é o desporto que mais gente gosta, e o que tem mais sucesso entre os alunos.
- Oi Tyler! Grande home run! – felicitou alguém. – Olá Kitty.
- Olá. – cumprimentei, sem saber bem quem.
- De onde é que conheces aquele rapaz? – interrogou Justin.
- Não faço a mínima ideia. – respondi. Ele sorriu, e eu derreti-me toda. – Tens de parar com isso.
- Com o quê?
- Com isso de sorrires de cada vez que olho para ti.
- Ai sim? Porquê? Quando te vejo fico contente.
- Desde quando é que és tão lamechas? – perguntei, na brincadeira.
- Desde que te conheci.
- A sério? Ao inicio ninguém diria.
- Isso é porque eu pensava que eras uma barbie sem neurónios. Obviamente estava totalmente errado.
- Pode ser que a minha nova “irmãzinha” te dê ouvidos. Não que eu sequer me interesse em dar-me bem com ela. É mesmo parva.
- A tua nova “irmãzinha”?
- Yup. O namorado da minha mãe vem viver connosco, e a Mia vem atrás. Mia… Que raio de nome.
- Sem ofensa, mas é tal e qual Kitty.
- Se vires, até faz sentido. – intrometeu-se Tyler. – A Kitty é uma gata, que mia.
- Ah, ah, que piada. – disse, ironicamente. – És mesmo parvo Tyler.
- É por isso que tu gostas tanto de mim? – perguntou ele, de forma convencida.
- Também. – concordei, beijando-lhe a cara.
- O que é que se pode fazer? Eu sou um máximo.
- Convencido.
- Outra qualidade que aprecias em mim.
- Nem por isso.
- Não sejas mentirosa, Kit.
- Não estou a ser, Ty.
- Meninos, parem com isso.
- Desculpa se não chegamos ao nível dos da faculdade, Justin.
- Pois, isso seria um problema. Ou para o ano não estás a pensar ir para a faculdade, Tyler?
- Estou, por acaso estou futuro Sr. Dr.
- Só Dr. Não sou esquisito. – brincou Justin.
- Isso é ser esquisito, porque estás a restringir…
- Parem já com isso! Parecem crianças. Olha Tyler, está ali a Sarah…
- Fogo, aquela miúda é uma chata. Não tinha olhos na cara, eu.
- Vocês só acabaram há uma semana!
- Exactamente. Felizmente já caí em mim.
Uma rapariga loira oxigenada, de saltos altos que se enterravam na lama (como os meus…) aproximava-se de nós. Era Sarah, a ex-namorada de Tyler. Eles tinham namorado 2 meses, e esta ainda não se conformava com o fim do namoro, por isso perseguia, literalmente, Tyler.
- Tyler! Jogaste tão bem! – gritou, ao longe.
- Vou fugir. – preveniu Tyler, antes de desaparecer na multidão. Sarah apareceu logo a seguir.
- Olá Kitty, olá Justin. O Tyler? Ainda agora o vi aqui.
- Deve ser impressão tua. – menti. – Ainda não estivemos com ele desde que o jogo acabou.
- Bem, se o vires diz que eu estou à procura dele.
- Ok. – concordei, obviamente sem intenção de cumprir o acordado.
- Bem, obrigada. Adeus.
- Adeus.
Assim que ela se afastou, olhei para Justin. Os dois partimo-nos a rir. Ele pegou-me na mão e arrastou-me para um sítio quase vazio. Sentámo-nos num banco.
- Não queres explicar aquilo de eu ao início parecer uma “barbie sem neurónios”? – perguntei, repetindo a expressão dele.
- Prometes não levar a mal?
- Prometo. – prometi.
- Digamos que tu tens um óptimo sentido de moda, vestes-te bem e isso tudo, mas à primeira vez pareces uma daquelas miudinhas fúteis, que só pensam em compras, e sonham com centros comerciais, e esse género de coisas.
- Ok, essa foi forte. – disse, dramaticamente.
- Tu prometeste…
- Eu sei, e não levei a mal. Mas achas que devia mudar a minha roupa?
- Não, nada disso. Ouve, é só uma aparência. Importante é o que existe dentro de ti, e nisso ninguém te bate.
- Desde quando é que és tão…
- Tão?
- Tão romântico? Poético? Filosófico?
- Acho que todos os médicos têm essa veia. – disse ele, piscando-me o olho. Sorri e, sem eu estar à espera, ele beijou-me com paixão.
- Amo-te Kitty.
- Óptimo, assim estamos quites, porque eu também te amo.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Confessions of two girls - Capítulo 1

Capítulo 1
 Mia Stevens
O dia estava a ser uma seca. Ultimamente, todos eram passados da mesma forma, e nada mudava. Nada mesmo. O ciclo de vida habitual repetia-se vezes sem conta: acordar cedo, ir para a escola, voltar a casa, fazer o jantar, estudar, cama. Resultado: seca. Mas ultimamente andava ainda mais seca que o habitual. Seca, seca, seca: não há mesmo outra palavra que descreva isto melhor.
- Oh bolas! – reclamei, quando deixei cair a colher dentro do tacho. Sim, estava na fase de fazer o jantar.
Voltando ao anterior… Ultimamente andava ainda mais seca que o habitual por uma razão que não conseguia identificar: seria por estarmos quase nas férias de Verão? Na escola já se sentia a contagem decrescente… Seria por ter de estudar para os exames? Sinceramente, uma hipótese pouco provável. Nunca estudei muito, e sempre tirei grandes notas. Seria então por o meu pai andar cada vez mais distante? Possivelmente. Há duas semanas que tentava descobrir o motivo da sua ausência. Era mesmo física, nada emocional. Eu sempre tive um lado de rebeldia (que é o que está em acção, a propósito) e ele sempre teve alguns problemas em se relacionar comigo, põe-me de castigo montes de vezes (apesar de já ter 18 anos), dá-me uma data de sermões… Porque é que agora cada vez que fala comigo começa a frase por “minha querida” ou nunca abre a boca para me dar uma “descasca”? E porque é que chega cada vez mais tarde a casa? A sério que não percebo. E, honestamente, acho que isso anda a aumentar a minha rebeldia.
- Querida, boa tarde. – disse ele, quando entrou em casa. Eu não disse?
- Olá pai. – respondi, consultando o relógio. 20h30…
- Como foi o dia?
- Foi bom. E o teu?
- Também. – respondeu ele, com um sorriso. Porque é que ele agora anda sempre com um sorriso na cara?
- O jantar está quase pronto.
- Boa, ainda bem. Vou só tomar um duche rápido.
- Vai, vai…
Enquanto Samuel Stevens tomava banho, acabei de pôr a mesa, acabei o jantar e sentei-me a ver televisão. Pouco depois, o meu pai apareceu, muito aperaltado para um jantar em casa.
- Vais a alguma festa? – perguntei, com censura.
- Não, não vou. E tu querida, vais a algum concerto de metal? – provocou ele, olhando com desdém para as minhas botas pretas, as minhas calças pretas justas rasgadas e a minha t-shirt branca lisa.
- Não, não vou. Caso não tenhas reparado, visto-me assim no dia-a-dia. Mas claro, agora andas demasiado ausente para notares…
- Demasiado ausente? – perguntou ele, fazendo-se desentendido.
- Sim, ausente. Não reparaste, foi?
- Mia, eu não ando ausente.
- Andas sim. Já não me chateias quando quero sair a meio da semana, ou não me pões de castigo quando te ignoro. Começas todas as tuas frases por “querida”… O que é que se passa? – perguntei, exigindo uma resposta.
- O que é que se passa? Queres saber o que se passa? – perguntou ele, exaltado. Desde que a minha mãe morreu somos só eu e ele, e as coisas nem sempre são fáceis… Mas apesar de tudo eu adoro-o, e só nos temos um ao outro. Por isso sabia que ia sair dali uma revelação.
- Sim, quero. Já não sou uma criança, não é?
- Não, não és. Por isso é bom que não reajas como tal.
- O que é que se passa? – perguntei, curiosa. Ele sentou-se ao meu lado e pegou-me na mão.
- Eu ando a chegar mais tarde porque…
- Porque andas cheio de trabalho? Esquece essa desculpa.
- Não, não é isso. Eu ando a chegar tarde porque tenho uma namorada.
Para esta não estava definitivamente preparada.
- Há quanto tempo? – perguntei, friamente.
- Há uns meses…
- Quanto tempo? – repeti.
- 1 ano.
- 1 ano? E não me disseste nada? – perguntei, furiosa.
- Tinha medo da tua reacção.
- Ai sim? Porquê? Eu sei que tu tens direito a continuar com a tua vida amorosa, ok? Não tens é o direito de me esconder isso! Eu sou tua filha, bolas!
- Eu sei. Desculpa.
- Porquê agora?
- Porque… Porque eu marquei um jantar amanhã, para tu e ela se conhecerem. E ela tem uma filha da tua idade, vais adorá-la. Vais finalmente ter uma irmã!
- Desculpa? Achas que me podes impingir uma irmã assim? Nunca devias ter marcado esse jantar! Eu não quero ir!
- Mas vais Mia, não há discussão.
- Eu não quero ir!
- Vais e ponto final. E por favor, vê se te vestes decentemente.
- Porquê? Ela tem de gostar de ti, não é de mim!
- Mia, comporta-te!
- Eu comporto-me! Tu é que não tens o mínimo respeito por mim, se não tinhas-me dito! – disse, preparando-me para ir embora. Estava a meio caminho de entrar no meu quarto quando me virei, para fazer uma pergunta. – Eu conheço-a?
- Provavelmente.
- Quem é?
- É a Leona Smith, uma das principais investidoras no meu atelier.
- Leona Smith? Ela é super rica! Ela tem uma das maiores herdades dos Estados Unidos!
- Eu sei.
- Mas… Ela vive em San Diego! – constatei.
- Eu sei.
- Então como é que vocês namoram? – perguntei. De repente, tudo ficou claro. – Tu abandonaste-me para te encontrares com ela, não foi? Aquelas viagens de negócios eram tretas!
- Mia…
- Como é que tu foste capaz? És a única pessoa que eu tenho no mundo e fazes-me isto? Como?
- Mia, ouve…
- Oiço o quê? As tuas mentiras? Não obrigada. Se calhar nem tens mesmo um atelier, são só tretas que inventaste!
- Não digas disparates! Sabes muito bem que tenho, vais lá montes de vezes!
- Ai vou? Se calhar não.
Virei costas e entrei no meu quarto, batendo com a porta. Como é que ele foi capaz? Eu pensava que ele andava a visitar exposições de pinturas em San Diego, e era tudo mentira! O meu pai é um artista, um verdadeiro artista, nunca me admirei que ele quisesse visitar as exposições. Como é que eu fui tão estúpida?
- Traidor! – disse, agarrando-me à almofada que estava na minha cama. Fiquei ali o resto da noite, a observar fotos antigas. A minha mãe tinha morrido quando eu tinha oito anos, tinha sido num acidente de carro. Sempre pensara que o meu pai deveria ter alguém ao lado dele, e a minha opinião não tinha mudado. Mas como é que as coisas chegavam a um ponto em que ele me mentia? Eu sei que não sou nem nunca fui a filha perfeita: como toda a gente sabe, sou um bocado rebelde. Mas não mereço que ele me tenha escondido isto, não mereço. Não sou aquela miúda que todos os professores adoram, e só dizem bem aos pais. A minha DT sempre disse que eu devo ter ficado rebelde pela falta da minha mãe, e  isso sempre o deixou triste. Mas neste momento, isso não me interessa mesmo. Ele não tinha o direito, e no que dependesse de mim as coisas não iam ficar fáceis.
êêê
- Ainda continuas chateada com o teu pai? – perguntou Lina, uma amiga minha.
- Yup.
- Tens toda a razão para isso. Ele foi um idiota em te ter escondido aquilo. – disse ela, enquanto tirava o isqueiro dos bolsos das calças.
- Vais fumar agora? – perguntei, espantada.
- O que é que te parece? – perguntou ela, ironicamente.
- Tens de ter cuidado, a sério. Já fumaste três cigarros hoje…
- E? Por favor, não te armes em minha mãe. – pediu ela, abrindo a boca enquanto saía fumo, mesmo directo à minha cara. – Não queres um?
- Não, sabes que eu não fumo isso.
- Não sejas cortes Mia.
- Tarde de mais. Além disso, eu viro aqui. Até amanhã.
- Até amanhã. – despediu-se ela, provavelmente desiludida pela minha recusa.
Já era habitual eu responder negativamente aquele tipo de perguntas. Nunca tinha tido um desejo desesperado de chegar a esse ponto, embora algo me diga que o meu pai acha que eu ando envolvida nesse tipo de coisas. Se o faz feliz, ele que pense isso.
Olhei para o relógio. 19h30, perfeito. Tinha feito os possíveis para chegar tarde a casa. Eu disse que não ia facilitar…
- Isto são horas? – perguntou o meu pai. A voz chegava-me do sofá. – Temos um jantar importante.
Ele levantou-se e pude ver que ele se esmerara para aquele jantar. Estava mesmo muito bem vestido.
- São as horas a que deu. Mas não te preocupes, que eu sou rápida.
Virei-lhe costas e fui para o meu quarto. Tomei banho num instante, vesti um vestido preto que tenho guardado para ocasiões “especiais”, vesti uns collants e calcei umas botas. Penteei o cabelo, guardei o telemóvel e mais umas quantas coisas numa mala e fui ter com o meu pai.
- Eu sei que vais contrariada, mas estás muito bonita.
- Obrigada. – agradeci.
Saímos de casa e entrámos no Audi do meu pai, que nos levou a um restaurante daqueles em que a comida não é barata. Nós nunca tivemos problemas de dinheiro, mas espantou-me aquela escolha.
- Ela é assim tão fina que temos de vir a um restaurante caríssimo? – perguntei, enquanto fechava a porta do carro.
- Por favor, comporta-te. – pediu ele, fugindo à minha pergunta.
- Já não sou uma miúda de 5 anos. – constatei, entrando no restaurante.
O restaurante, com uma decoração bastante “formal” encontrava-se cheio de gente. Como não frequentava aquele sítio com regularidade (nenhuma, mesmo), não sabia se era por ser Sexta à noite ou se era por ser sempre assim. Calculei que fosse a segunda hipótese.
- Olha, estão ali. – disse o meu pai, apontando para uma mesa onde se encontrava uma mulher e uma rapariga.
A mulher era um pouco mais baixa que o meu pai, ruiva e de olhos castanhos-claros, e tinha uma excelente forma física, para uma mulher que deve rondar os 45 anos. Usava um vestido daqueles que devem ser feitos por estilistas super famosos, mas que se enquadrava na perfeição com ela. Ao seu lado, estava uma rapariga um bocado mais baixa que eu, cabelo castanho ondulado, quase até meio das costas. Os seus olhos cinzentos tinham um formato muito parecido com os da mãe, e tal como esta usava um vestido que dava medo de tocar, com medo de estragar. A miúda gritava a milhas de distância que era uma “betinha”.
- Leona! Kitty! Como estão? – cumprimentou o meu pai, beijando Leona (na boca) e Kitty na face.
- Olá Samuel. – cumprimentou Kitty.
- Kitty, querida, apresento-te a minha filha Mia. – apresentou o meu pai. – Penso que já a conhecias, não é Leona?
- É sim. – confirmou Leona, sorrindo. Soltei um sorriso amarelo.
- Prazer em conhecer-te, Mia. – disse Kitty, simpaticamente.
- Não posso dizer o mesmo… - constatei, baixando a voz.
- O quê? – perguntou Kitty, fingindo que não tinha percebido.
- Foi isso que ouviste, não tenho prazer em te conhecer. Se as circunstâncias fossem outras talvez tivesse, mas nestas… Desculpa, estás com azar.
Formou-se um silêncio constrangedor, em que vi que o meu pai estava com vontade de me esganar. Fiquei secretamente satisfeita.
- Bem, e que tal irmos ao jantar? – perguntou Leona, tentando desanuviar o ambiente.
- Parece-me bem. – concordou o meu pai, aproveitando a oportunidade. Olhou para mim com ar de censura e sentou-se à mesa. Também me sentei e comecei a escolher o que queria. Ele nem sabia no que se estava a meter…
êêê
- O teu comportamento foi inaceitável Mia, inaceitável. – repreendeu-me o meu pai, quando mais tarde chegámos a casa. Revirei os olhos.
- Está feito.
- Pois, mas não devia estar. O teu comportamento foi inaceitável. – repetiu ele, reforçando a ideia.
- Já percebi…
- Não, não percebeste.
- Não me digas que estavas à espera que eu aceitasse isto na boa!
- Sim, estava.
- Grande lata! Podes tirar o cavalinho da chuva.
- Mia, não me faltes ao respeito!
- Tu não podes estar à espera que eu reaja bem quando me lanças uma bomba destas! Tu escondeste-me o teu namoro durante um ano! Um ano!
- Mia, já passámos essa fase.
- Passámos, é claro que passámos. – respondi, ironicamente. – Queres saber que mais? A filhinha dela é um pãozinho sem sal, daquelas miúdas ricas que deve achar que tem o mundo aos pés dela. Acredita que foi difícil estar à mesma mesa que ela.
- Olha que pena! – disse o meu pai, também ironicamente. – Então é melhor começares a habituar-te.
- O que é que queres dizer com isso? – perguntei, confusa.
- Quando acabares os exames vamos mudar-nos para San Diego.